Um chileno que foi abusado sexualmente por um padre pedófilo afirmou que o Papa Francisco lhe disse que Deus o fez gay e o ama assim — o comentário sobre homossexualidade mais progressista já proferido pelo lider da Igreja Católica Romana. O relato foi publicado no portal do jornal espanhol "El País".
Juan Carlos Cruz, que falou em particular com o Papa na semana passada sobre o abuso que sofreu nas mãos de um dos pedófilos mais notórios do Chile, disse que a questão em torno de sua sexualidade surgiu porque alguns bispos do país latino-americano tentaram descrevê-lo como um pervertido, alegando que ele estaria mentindo sobre o abuso.
— O Papa me disse: "Juan Carlos, que você é gay não importa. Deus te fez assim e te ama assim, e eu não me importo. O Papa te ama assim. Você precisa estar feliz com quem você é — contou Cruz ao "El País".
Agora com 87 anos, Fernando Karadima, o padre que abusou de Cruz, foi considerado culpado pelo Vaticano.
Greg Burke, principal porta-voz do Vaticano, não respondeu ainda às perguntas sobre se a declaração de Cruz reflete com precisão sua conversa com o Papa.
Não é a primeira vez que se sugere que Francisco tenha uma atitude aberta e tolerante em relação à homossexualidade, apesar do ensinamento da Igreja Católica de que a relação sexual entre pessoas do memso sexo — e, na verdade, todo sexo fora do casamento heterossexual — é um pecado. Em julho de 2013, em resposta à pergunta de um repórter sobre a existência de um suposto "lobby gay" dentro do Vaticano, Francisco disse: "Quem sou eu para julgar?".
NOVOS COMENTÁRIOS SURPREENDEM
As novas observações que o Pontífice teria feito parecem ir muito além ao abraçar a homossexualidade como uma orientação sexual concebida e concedida por Deus. Isso sugere que Francisco não acredita que os indivíduos escolham ser gays ou lésbicas, como argumentam alguns conservadores religiosos.
Austen Ivereigh, autor de uma biografia do Papa, disse que Francisco fez comentários semelhantes em conversas particulares no passado, quando ele serviu como diretor espiritual de gays em Buenos Aires, na Argentina. No entanto, o relato público de Cruz sobre sua conversa com o Papa traz os comentários mais “vigorosos” sobre o assunto desde 2013.
Porém, isso não represent uma mudança nos ensinamentos da Igreja, disse Ivereigh, uma vez que o catolicismo nunca se pronunciou formalmente sobre o porquê de os indivíduos serem gays.
Christopher Lamb, que é correspondente do Vaticano para o portal "Tablet", considera os comentários um sinal de que há uma mudança de atitudes ocorrendo:
— (Esses comentários) Vão além de "quem sou eu para julgar?". Passa a ser um "você é amado por Deus" — afirma Lamb. — Eu não acho que ele tenha mudado o ensino da Igreja, mas ele está demonstrando uma afirmação de católicos gays, algo que tem faltado ao longo dos anos em Roma.
As declarações surgem num momento em que vários membros de alto escalão do clero têm procurado publicamente incluir os católicos gays dentro da Igreja. Muitos desses fiéis se sentem evitados e mal recebidos na Igreja, e alguns foram até mesmo condenados ao ostracismo.
Padre James Martin, um padre jesuíta em Nova York que tem quase 200 mil seguidores no Twitter, liderou o esforço de divulgação da inclusão de diversas sexualidades e foi escolhido no mês passado para servir como consultor do secretariado do Vaticano para as comunicações.
Martin argumentou em seu livro "Construindo uma ponte" que o ônus da Igreja é fazer com que os católicos LGBT se sintam bem-vindos dentro dela e que se pare de discriminar as pessoas com base em sua “moralidade sexual”.
O Globo
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